Prefácio do Tradutor
Talvez o leitor seja a favor da intervenção do estado na economia sem ter consciência das consequências desagradáveis que dela resultam; talvez seja contra sem saber bem porquê.
Esse notável pequeno livro, escrito por Mises em 1940 e só agora publicado porque os originais achavam-se perdidos entre os seus papéis, esclarece de forma cristalina e didática os efeitos do Intervencionismo na vida das pessoas em geral.
Mises já havia escrito, em 1922, Socialism, uma crítica contundente e irrefutável ao então nascente regime socialista implantado na União Soviética, mostrando a impossibilidade lógica do cálculo econômico numa economia socialista; foram necessários 70 anos para que o socialismo, como forma de organização social, desmoronasse como havia previsto Mises. Nas ciências sociais, como é o caso da economia, os efeitos não raro estão muito distantes das causas, dificultando a percepção da relação de causa e efeito.
Ele já havia escrito Liberalism em 1927, explicitando, pela primeira vez, o que seria a doutrina liberal e mostrando mais uma vez de forma clara e racional que se o homem prefere a riqueza à pobreza, o liberalismo é o melhor meio de satisfazer esse predominante objetivo da humanidade.
Mas, se o regime que mais se aproximou do socialismo foi o vigente no período de dominação soviética na Rússia e se a Inglaterra e os EUA no século XIX foram os que mais se aproximaram de um regime liberal, o Intervencionismo – que é o regime, em maior ou menor grau e por mais tempo vigente na maior parte dos países do mundo moderno – ainda não tinha sido objeto de uma análise conceitual que explicasse a sua lógica e as consequências inevitáveis da sua implementação.
Essa lacuna veio agora ser preenchida com o feliz achado do texto ora publicado. Como nos seus demais textos, a análise que Mises faz do Intervencionismo é desapaixonada, racional, conceituai, sem julgamentos de valor; ele procura mostrar quais são os efeitos inevitáveis do intervencionismo, e se esses efeitos não são os desejados pela imensa maioria das pessoas, a conclusão inevitável é que sua adoção só pode ocorrer por ignorância.
Pela onipresença do Intervencionismo no mundo moderno, este ensaio deveria ser leitura obrigatória de todos os que se interessam
em compreender as relações de causa e efeito da adoção de políticas que tanto nos afetam e que, via de regra, são consideradas apenas por um ângulo emocional, político-demagógico, como se a manifestação de sensibilidade com os mais carentes fosse uma condição necessária e suficiente para erradicar as mazelas que tanto nos afligem.
Como Mises trata do Intervencionismo exclusivamente no plano conceitual, para ilustrar os conceitos procurei acrescentar ao texto traduzido alguns comentários remetendo o conceito analisado a algumas situações concretas da realidade brasileira. O leitor poderá identificar inúmeras outras, de tão evidentes e abundantes que são em nosso país. Esses comentários foram introduzidos ao final de cada capítulo, facilitando ao leitor que assim o preferir abster-se da sua leitura. Ao leitor já mais familiarizado com a leitura de Mises, bom proveito.
Ao leitor que ora se inicia no prazer da leitura de Mises, bem-vindo seja!